
Quando seu pai morreu, por acordo entre avó e mãe estabeleceu-se que passaria 6 meses no campo, em Nohant, 6 meses em Paris. Ficaria um semestre com sua mãe, que adorava, e outro no castelo imenso e gelado, entre mulheres idosas, outras elegantes, ainda algumas frívolas e preconceituosas.
- Aos 7 ou 8 anos aprendeu o francês, depois o latim e o grego, dança, música, desenho e caligrafia.
Em 1812, Napoleão partia para a Campanha da Rússia, e a França iniciava seu declínio. A avó separou a neta dos seus parentes plebeus, inclusive de sua irmãzinha, que amava. Cresceu sem afeto, a avó doente, ela entregue a criadas, que por vezes a espancavam. Apesar disso, sonhava e decorava versos de Corneille ou Racine. Extravasava seus sentimentos cantando e improvisando versos brancos. Aos 12 anos tentou escrever e fez várias composições.
Criou um personagem, Corambé. Conhecendo um pastor de porcos, criatura feia, achou-o muito parecido com um gnomo, meio homem, meio monstro, tipo perfeito para o seu Camboré. Publicou as histórias que ouvira dos pastores, sacristãos, trituradores de cânhamo do vale do Noire.
A avó resolveu enviá-la para o convento da Inglesas, onde ficou 3 anos. Nessa reclusão, escreveu uma novela religiosa e um romance pastoril, que não foram publicados. Sua religiosidade tornou-se apaixonada. O misticismo não a impediu de ter certa independência. Dedicou-se ao teatro e adaptou uma peça de Moliére, "O doente imaginário", cortando as cenas de amor. O tempo passou. Seu irmão tornara-se um elegante militar, e ela saíra do convento. Lia muito, entre outros: Chateaubriand e Rousseau.
Corriam na aldeia muitas críticas a ela:
- montava a cavalo
- cantava em italiano
- atirava com pistola
- vestia-se de homem,
pois achava os trajes masculinos mais adequados às suas atividades. Desdenhava a "opinião alheia" ou falatório das comadres e puritanos de La Châtre. Nessa época morreu a avó.
Casou com um moço alegre, elegante, Casimir Dudevant, filho de um barão, e Maurice, o primeiro filho, nasceu em junho de 1823. Teve também uma filha, Solange. Metida em roupas masculinas (figura ao lado) passou a enfrentar tudo. Essa fase foi curta e determinada pelas pressões do meio, mas causou tremendo escândalo. Por tal período foi sempre lembrada. O uso de roupas masculinas deflagrou a sua imortalidade com o pseudônimo masculino. Passou para a História não com seu nome de mulher, mas como o de homem.
Começou a publicar livros com o pseudônimo masculino que a celebrizou. Ligou-se a Stéphane de Grandsagne, e a partir desse amor deixou a religião e os códigos morais da época. Ele foi o pai de sua filha. Conheceu Balzac. Jamais entregou-se a bebidas ou tóxicos. Ganhou fama, perdeu a tranquilidade. Entre seus livros alguns permaneceram, tais como:
- Indiana
- Valentine
- Lélia
Em viagem à Itália conheceu Stendall. Fixou-se em Veneza, onde viveu sua paixão por Alfred Musset. Ela publicou:
- André
- Jacques
- Lettres d' un voyageur
- François le Champi
- La petit Fadette
Sentia grande ternura pelos fracos e desamparados. Seus amantes foram doentes ou mais jovens do que ela. Defendeu incrivelmente, para seu tempo, a igualdade dos sexos. Foi percursora do movimento feminista. Conheceu Chopin e foi com ele para a ilha de Maiorca. O amor dos dois durou 8 anos. Acabou envelhecendo sozinha, como castelã em Nohant, amada pelos camponeses, que a chamavam de "a boa senhora".

Nasceu em 1804 e morreu em 1876, o caixão foi carregado pelos camponeses de blusas azuis, empunhando nas mãos um ramo de loureiro, segundo antiga tradição. O príncipe Napoleão também levou seu ramo de louro. Victor Hugo escreveu um réquiem, especialmente, para o sepultamento.
Origem: do livro 'Elas, mulheres que marcaram a humanidade' de Lúcia Pimentel Góes