domingo, 10 de maio de 2009

Rainha Sedução – Cleópatra


Desde que nasceu foi-lhe ensinado que toda a sabedoria e toda a beleza vêm de Atenas. Cultivou com dedicação a ambas: sabedoria e beleza.

Venerava o Museion, a maior biblioteca do mundo, a de Serapis – que guardava centenas de milhares de rolos de papiros. Os filósofos do Museion fizeram-na saber que algo se erguia acima da coroa e do ouro:


"orgulho de um rei pode ser mais belo que o poder"

Ela, cujo senso de realeza ergueu-a tão alto entre os demais, jovem rainha do delta do Nilo.

Rainha do mais antigo sangue, da dinastia mais brilhante, mulher grega, ela, a sétima rainha do Egito. Em 250 anos, treze Ptolomeus tinham-se sucedidos uns aos outros. Senhora de tesouros fabulosos, acumulados em três séculos, sua corte era rival das cortes dos antigos faraós. Mulher que reunia em si todas as antíteses de seu sexo:
  • valente
  • inventiva
  • ousada
  • astuciosa
  • mansa
  • implacável

Diante do venerado César, um escravo depositara um tapete precioso, presente do rei Ptolomeu, foi desenrolado. César estupefato, ergue a graciosa deusa, sedução e inteligente, ousadia e imaginação, e a mais bela boca que jamais vira. Boca delgada e imperiosa, e olhos negros pro-jetando um olhar de falcão.

Um abraço, desencadeando denso êxtase nos corpos, reuniu o maior general e a mulher mais extraordinária de seu tempo. Seus anseios não tiveram limites, e foi mãe de Cesarion, filho de César, descendente de Vênus, como ele gostava de afirmar. Ela que não sucumbiu ao cruel assassinato de César, o homem que amava, mas se forçou a ser a caçadora, a amazona, a mãe. Embora cheia de dúvidas, pensando só no filho, retirou-se para sua pátria.

Acalentando o seu antigo sonho, o sonho de Alexandre, em unir Oriente e Ocidente, na segurança do Egito, seduziu Marco Antônio, que tinha metade do Império Romano em suas mãos, naqueles dias de triunvirato. A seu encontro navegou, em galera cuja popa era de ouro, as velas de prata. Música de flautas e harpas, banquetes servidos em baixelas de ouro, ela, Afrodite, reinando absoluta. Outro par excepcional, vigor e beleza, impetuosidade e refinamento, se unira. Ela mulher amorosa, dá a luz gêmeos, um menino e uma menina. Enfrentou solidão, conspirações, mas reinou soberana. Amadurecida, substituiu suas anteriores pretensões divinas por planos humanos.

Depois do apogeu, o destino comandou seu declínio. Com indômita coragem enfrentou-o. Tomada de presságios, escutou o coro das vozes funestas, intuindo a hora trágica. Guerras, derrotas, mais guerras, o amado, agora um vencido, suicidou-se.

Rainha, Ela, que tinha sua estátua em Roma, no templo de Vênus, e em Atenas, no Paternon, tornara-se a encarnação da velha competição entre Atenas e Roma.

A Rainha preparou-se, em seu mausoléu, acompanhada de suas duas escravas fiéis. Tomou um banho, ornamentou-se com suas jóias, na cabeça a coroa dupla do Egito. Depois de servir-se de iguarias, sorveu o vinho doce. Teria pensado em Cesarion, o filho amado? Estendeu o braço para a serpente... e recebeu a morte.

"Ísis, a Afrodite egípcia, a dupla coroa de seu pai na cabeça, a serpente de ouro erecta em sua testa, carregada de ouro e de prata, imóvel como as imagens dos deuses nas paredes dos templos egípcios como, quinze séculos antes, as rainhas dos faraós se mostravam, nos resplandescentes trajos de Ísis. Ela sentou-se sozinha, pois nesse dia era uma deusa."

Fonte: livro 'Elas Mulheres que marcaram a humanidade' de Lúcia Pimentel Góes