sábado, 27 de dezembro de 2008

Aprendendo a viver

de Clarice Lispector
Editora Rocco - crônicas


Neste livro Clarice é dona de casa e enfrenta os problemas como qualquer uma simples mulher. O fato de escrever para um jornal não a faz perder a majestade. Surpreende a percepção de um humor constante. Para muitos a descoberta dessa Clarice brincalhona será deleitosa novidade, e com espantoso prazer percebe-se a maneira livre e ousada com que ela desincumbiu-se da tarefa de escrever semanalmente para o jornal.

Poema da grande alegria

Olhavas-me tanto
E estavas tão perto de mim
Que, no meu êxtase,
Nem sabia qual fosse
Cada um de nós...
Era num lugar tão longe
Que nem parecia neste mundo...
Num lugar sem horizontes,
Onde, sobre águas imóveis,
Havia lótus encantados...
Vinham de mais longe...
De ainda mais longe,
Músicas sereníssimas,
Imateriais como silêncios...
Músicas para se ouvirem com a alma, apenas...
E tudo, em torno,
Eram purificações...
Não sei para onde me levavas:
Mas aqueles caminhos pareciam
Os caminhos eternos
Que vão até o último sol...
E eu me sentia tão leve
Como o pensamento de quem dorme...
Eu me sentia com aquela outra Vida
Que vem depois da vida...
Eleito, ó Eleito,
Eu queria ficar sonhando
Para sempre,
Tão perto de Ti
Que, no meu êxtase,
Nem se pudesse saber
Qual fosse cada um de nós... (Cecília Meireles)