
Vivendo numa sociedade construída pelos homens e para eles, Simone alcançou um espaço valioso para a expressão da alma feminina. Sua vida apaixonante e desafiante é um ponto de partida para inúmeras reflexões sobre a condição das mulheres. Ela conseguiu inaugurar em escala mundial, um novo olhar sobre as mulheres:
De família burguesa e católica, Simone Lucie-Ernestine-Marie-Bertrand de Beauvoir nasceu em Paris no dia 9 de janeiro de 1908. A mais velha de Georges (advogado parisiense bem nascido, culto, inteligente e de ascendência abastada) e de Françoise (filha de um banqueiro de Verdun). Simone viveu cercada de mimos e de amor pelos pais.
- «o nascimento do respeito pelo segundo sexo»
Do pai herdou o amor pela literatura e pelo teatro. Da mãe herdou o que significa "ser mulher" naquela época: encolher-se, ficar sempre de lado, censurar seus próprios desejos. Mas Simone insurgia-se frequentemente contra quaisquer imposições, demonstrando de pequena sua personalidade forte; se contrariada se debatia no chão, tinha acessos de cóleras explosivos até que sua vontade fosse cumprida. Quando Simone tinha 2 anos, nasce sua irmã que foi batizada de Poupette (em francês bonequinha). Família unida. Passavam todas as férias reunidos nas antigas casas dos avós paternos e maternos. Devido a Primeira Grande Guerra Mundial (1914) a grande maioria das famílias francesas faliram. E a família de Simone começou a passar por dificuldades e se mudaram para um apartamento menor, impossível ter privacidade, seus livros e sua solidão para refletir.
Com 15 anos passou a questionar a desigualdade dos sexos e a existência de Deus. Queria tornar-se escritora, a partir de suas próprias experiências. Concretizou em sua alma a imagem do homem ideal:
Eu queria que, entre marido e mulher, tudo fosse posto em comum; cada um deveria desempenhar perante o outro o papel de testemunha que eu atribuíra antes a Deus.
Sobre ele, Simone também escreveu:
Para existir para mim enquanto esperança, ele era, de imediato, o modelo do que eu desejava tornar-me; logo, era-me superior.
Preparou-se para o ingresso na Sorbone e foi admitida com 16 anos, quando iniciou o curso de Filosofia. Era muito introvertida e orgulhosa para fazer amizades fora de aulas, e passava dias e noites mergulhada nos estudos. Concluiu esplendidamente seu curso de Filosofia e Grego aos 20 anos. Recebeu um convite para lecionar, e passou a cursar Psicologia, formando-se sem dificuldades.
Simone sentia-se feminina, mas de um modo diferente, como disse sobre si mesma: "um coração de mulher num cérebro de homem", passou a se preocupar com a aparência, cuidando mais dos trajes e dos cabelos. Passou a frequentar a Biblioteca Nacional e deleitava-se ao se ver sentada entre pensadores, filósofos e cientistas – era esse o seu lugar. No restante do dia, ia aos cursos da agrégation na Sorbonne e na Escola Normal; a noite, lia romances ou saía para assistir aos novos espetáculos.
Voltando às aulas, conhecia todos os colegas, menos o grupo formado por:
- Jean-Paul Sartre
- Paul Nizan
- André Herbaud
Jean-Paul Sartre era parisiense e nascera em 21 de junho de 1905. Era baixinho, feio, talentoso e rebelde. Vivia com extraordinária liberdade e inquietude, sempre alerta, interessando-se por tudo, e não suportava pessoas afetadas.
Assim se tornaram companheiros no trabalho e na vida, por meio de um vínculo então incomum:
- o respeito à individualidade e à liberdade de cada um.
Simone desenvolvia-se na literatura e na filosofia de cunho existencialista, feminista e autobiográfica, valendo-se também da ficção. Seu primeiro livro publicado não era feminista, mas um romance, A convidada (1943), em que criou personagens humanos e atuais, cujo tema era a exagerada permanência de uma jovem convidada por um casal, o que passa a gerar ciúmes na mulher, nessa obra, ela trata da árdua relação de uma consciência com outra. Esse livro foi inspirado na sua vivência com Sartre e uma jovem estudante, que se tornara amiga íntima de ambos. Escreveria ainda:
- O sangue dos outros (1944)
- As bocas inúteis (1945)
- Todos os homens são mortais (1947)
- Por uma moral da ambiguidade (1947) um dos seus livros mais importantes
- O segundo sexo (1949)
- Os mandarins, que recebera em 1954 o prêmio Goncourt
- A longa marcha (1957)
- Memórias de uma moça bem comportada (1958)
- A forca da idade (1960)
- A força das coisas (1963)
Sobre as mulheres em O segundo sexo ela escreve neste trecho do livro:
Se a função da fêmea não basta para definir a mulher, se nos recusarmos a explicá-la pelo "eterno feminino" e se, no entanto, admitimos, ainda que provisoriamente, que há mulheres na Terra, teremos que formular a pergunta: que é uma mulher?
Simone nos convida a refletir apaixonadamente sobre o fato de que a mulher é inferiorizada pela sua própria situação: ela não tem passado, não tem histórico nem sequer religião própria, uma vez que nunca mostrou sua voz na História. A sua solução é que mulher e homem se reconheçam como semelhantes, atingindo juntos a liberdade.
Jean-Paul Sartre morre vítima de ataque cardíaco em 1980, e Simone sofre a perda irreparável de sua alma gêmea e escreve em sua homenagem a obra A cerimônia do adeus, um ano mais tarde.
Simone de Beavouir morre em Paris dia 14 de abril de 1986, aos 78 anos, e seu corpo está enterrado ao lado do companheiro de vida Jean-Paul Sartre, no célebre cemitério de Montparnasse.
Origem: do livro 'Mulheres que mudaram o mundo' de Gabriel Chalita